segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A flor e a estrela


Duas almas se pertenciam  mesmo antes de existir vida
muito antes da primeira célula ser formada
Enfim antes de toda evolução
e iriam se pertencer eternamente.

Em determinada dimensão se encontraram como matéria humana
Com apenas um olhar se reconheceram
Porque estava dentro de uma a lembrança da outra
estava dentro da outra a saudade de uma.

Quando os corações se ligaram
já não existia a pequenez da matéria
As almas se enlaçaram
Num mergulhar no interior do outro.

Um dia findou a matéria humana
ele se viu estrela, ela flor de cêra
Não entendiam a separação
Tinham jurado  eternidade.

A flor ansiava pela estrela
crescia se enroscava, subindo escalando
tentando chegar ao céu
e a estrela lançava seu brilho como guia.

Numa determinada noite a flor sentiu-se diferente
já madura que estava lançou os botões
quando a flor se abriu a estrela desceu
e o cheiro de amor exalou.

                                                                            Augusto.
Obs.; ganhei essa flor de presente da minha mãe, é uma flor que tem a estrela em seu miolo e um cheiro maravilhoso que ela exala a noite.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Judas


Quero o Judas que me toca
que me beija
Quero o Judas que me troca
e que me trai

Quero o Judas que se mata
pelo excesso de amor que o culpa
Quero o beijo que o enche de mim
e esse Eu dentro dele decrete o seu fim

Quero o judas que se vai
pra seu amor evaporado do corpo
encontre o meu no corpo crucificado

Não quero um Pedro que não toca
que me nega
Não quero um Pedro que tem medo
e que me desconhece

E o galo sentencia sua fraqueza
Não tem o toque, não tem o beijo
Ganha a vida
Mas não morre de amor.


                                                Augusto

Obs.: Tela de pintura de Caravaggio.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

INVASÃO


Conheci um homem que acreditava que ele era o centro.
Não sei se sua religião, sua cultura ou se sua própria natureza o convenceu disso.
Ele chegou num lugar e se certificou que ali era um bom lugar para morar
mas  não se deu conta, que aquele lugar já tinha moradores.

Acreditando em sua superioridade, carpiu todo o terreno,
retirou como definia ele, todo o "mato"
Lançou base forte, levantou tijolo por tijolo, cobriu com telhas,
colocou portas e janelas e feliz entrou no seu lar.

Na primeira noite , cansado que estava deitou e tentou adormecer
Se estranhou com o chão que tremia,
algumas horas depois, assustado verificou que brotavam daquele solo
vários pendões verdes que cantarolavam como vozes num coral
eles cresciam, cresciam  e o homem já não suportava mais aquela cantoria.

Deixou a casa quando o sol surgia
e contra sua alegria as flores já no telhado saldavam o dia.
O que ele desconhecia, que naquela dimensão as flores tinham sua primazia.
 
                                            Augusto

segunda-feira, 12 de março de 2012

Posso te ver?


E é assim o pertencer
vem devagar
e sem querer entrar, invade
Quando nega, quando foge
tropeça

Quanto mais me afasta
mais próximo estou
Me reconheço no seu olhar
e no seu, não poder olhar

Pensa que se engana
Tudo está normal
basta me ver
sai o pedestal

Você arrisca me olhar
ao me encontrar
seu peito te trai
e você cai

Pensa que se controla
que está só na beira
Mas já mergulhou
no lago do meu afago

Pra não te assustar
como um cego
Tateio levemente o seu rosto
e sua pele reconhece minhas digitais

Não receie me machucar
O que machuca é seu receiar
Sei sentir
Mas sei sair.

                                                 Augusto

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os Eus



    Um errante caminhante
a buscar o seu Eu
Segue confiante
que o melhor é se achar
No topo da montanha
O encontro com o eu
e o eu não é nada
Sou mais sem o eu

Me despeço do Eu
desço a montanha
me calo
me perco
e me esqueço
A cada passo sou menos
mas o menos é mais

Só um vazio pode ser preenchido
Um êxtase me recria
Quem sou eu?
Não sei, Estou renascendo
Deito e despeço de mim
Abro os olhos e  sou.

                                                    Augusto


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Trem


O trem apita: OHM
                            E torna a repetir:  OHMMMMMMMM
É a hora da partida.

É o soar do Universo
 O barulho cósmico
Os que esperavam na estação da vida
E despertaram a nova consciência 
podem escutar OHMMMM

O trem apita
É o som das trombetas
Anjos e arcanjos tocam:
OHMMMM

 Chegou a Nova Era
O início de um novo ciclo
Corram todos pra estação
É a hora de partir

OHMMMMMMM
Esse trem
Não  permite bagagens nem acompanhantes
É uma viagem solitária
Ao novo e ao desconhecido

Chego à estação
Dou com o Diabo no portão
ele me mostra um bilhete
Que leio de antemão:
Quem tem desejo ou medo não viaja nesse não!

O Trem apita:
OHMMMMMM
Largo as malas no chão
Despeço do meu coração
Descalço e com um sorriso vão
Entro naquele vagão

O trem apita:
OHMMMMMM
É a última chamada
Ao trem do desapego
Rumo ao nada.

                                                      Augusto

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ouro Preto


    Numa manhã chuvosa em Ouro Preto
    Vi um deus negro segurando as lágrimas
    da grande mãe África em suas mãos
    Mãe que chora sobre uma cidade
    Suas lágrimas escorrem sobre as pedras das ruas, pedras das calçadas,
    sobre as pedras das casas e as  pedras das igrejas.
    Lágrimas que limpam as agruras impregnadas,
    nas pedras do sofrimento de seus filhos escravos
    Os europeus já arrancaram os deuses das entranhas da mãe
    Rubiz, diamantes e ouro foram levados da África.
    Quando o ouro aparece nas grandes Minas gerais,
    Novamente os portugueses  vão buscar os filhos da negra mãe.
    Só os pretos podiam encostar e extrair as preciosidades da terra.
    Hoje, Ouro Preto é negro!
    São eles que sobem e descem as ladeiras da cidade
    São eles que gritam através das pedras das paredes e cascalhos,
    quando o trem passa
    São eles o verdadeiro sentido da cidade
    Eles são o Ouro Preto de Minas Gerais.

                                                                          Augusto