quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os Eus



    Um errante caminhante
a buscar o seu Eu
Segue confiante
que o melhor é se achar
No topo da montanha
O encontro com o eu
e o eu não é nada
Sou mais sem o eu

Me despeço do Eu
desço a montanha
me calo
me perco
e me esqueço
A cada passo sou menos
mas o menos é mais

Só um vazio pode ser preenchido
Um êxtase me recria
Quem sou eu?
Não sei, Estou renascendo
Deito e despeço de mim
Abro os olhos e  sou.

                                                    Augusto


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Trem


O trem apita: OHM
                            E torna a repetir:  OHMMMMMMMM
É a hora da partida.

É o soar do Universo
 O barulho cósmico
Os que esperavam na estação da vida
E despertaram a nova consciência 
podem escutar OHMMMM

O trem apita
É o som das trombetas
Anjos e arcanjos tocam:
OHMMMM

 Chegou a Nova Era
O início de um novo ciclo
Corram todos pra estação
É a hora de partir

OHMMMMMMM
Esse trem
Não  permite bagagens nem acompanhantes
É uma viagem solitária
Ao novo e ao desconhecido

Chego à estação
Dou com o Diabo no portão
ele me mostra um bilhete
Que leio de antemão:
Quem tem desejo ou medo não viaja nesse não!

O Trem apita:
OHMMMMMM
Largo as malas no chão
Despeço do meu coração
Descalço e com um sorriso vão
Entro naquele vagão

O trem apita:
OHMMMMMM
É a última chamada
Ao trem do desapego
Rumo ao nada.

                                                      Augusto

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ouro Preto


    Numa manhã chuvosa em Ouro Preto
    Vi um deus negro segurando as lágrimas
    da grande mãe África em suas mãos
    Mãe que chora sobre uma cidade
    Suas lágrimas escorrem sobre as pedras das ruas, pedras das calçadas,
    sobre as pedras das casas e as  pedras das igrejas.
    Lágrimas que limpam as agruras impregnadas,
    nas pedras do sofrimento de seus filhos escravos
    Os europeus já arrancaram os deuses das entranhas da mãe
    Rubiz, diamantes e ouro foram levados da África.
    Quando o ouro aparece nas grandes Minas gerais,
    Novamente os portugueses  vão buscar os filhos da negra mãe.
    Só os pretos podiam encostar e extrair as preciosidades da terra.
    Hoje, Ouro Preto é negro!
    São eles que sobem e descem as ladeiras da cidade
    São eles que gritam através das pedras das paredes e cascalhos,
    quando o trem passa
    São eles o verdadeiro sentido da cidade
    Eles são o Ouro Preto de Minas Gerais.

                                                                          Augusto

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Rosa de vidro



Por que só agora Rosa?
Por que tantas horas?

Eu aqui dentro, você aí fora.
Preso eu em minhas ilusões
sofrendo os desertos de minha alma
rastejando no escuro da procura

Você ao sol, vivendo, se deixando ser
entregue ao momento já
as pétalas chacoalhando ao vento
o perfume se entregando ao ar.

Eu separado do Todo
Tateando as próprias vontades
como cego que não encontra a saída
e fica onde está.

Por que só agora Rosa?
Por que tantas horas?

Só agora estilhacei o vidro da separação
não existe o futuro e o passado se foi
não mais o ego, apenas o eu
Eu sou a rosa e a rosa sou eu.

                                   Augusto.

sábado, 26 de novembro de 2011

Dimensão



Já fui pedra
já fui água
Já fui grão e pendão
Já fui bicho,
Pastei, nadei e voei.
Agora ocupo esse corpo e
quero o melhor desta dimensão:
Cheiro de mato
Perfume de flor
Som de cachoeira
Gosto do mar
Silêncio da montanha
Carinho de bicho e para extravasar
Simplesmente Amar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Códigos de barra


     Os números para mim apenas existiam
     agora se comunicam comigo
     cada um em seu lugar
     me dizem de um ciclo
    A matemática decifra a vida.

    Estou com asco dessa vida parada
    nojo de quem só joga com os sentimentos
    e  dos que só se importam com os números do bolso
    Peço aos meus números de vida que se acelerem e
    me levem para outro lugar.

    A vida diária é pequena demais
    quero a ilusão e a fantasia do infinito
    Digo não,  a essas pessoas apenas códigos de barra.
   
Augusto

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Movimento



   Estou com os pés na linha
que limita minha vontade e
sua liberdade
Não existe mêdo em mim
Quem tem mêdo não tem movimento.

A vida é fluxo
é ciclo
é como rio que corre
Tudo que está parado não é vivo
Tudo que não flui morre.

Meus sentimentos não coalham
dentro das minhas veias
mas evaporam na superfície da minha pele
O que sinto está à vista.

Sou exagerado
mas o ridículo não me inibe mais
Feio é quem não consegue viver
o que se pode sentir.

                                          Augusto

domingo, 12 de junho de 2011

Carrossel

 

 
Já era madrugada e a luz prateada da lua clara dava lugar aos primeiros sinais do dia, quando fui acordado por um som diferentes dos normais cantos de galo. O som vinha da matinha próxima do riacho, pros lados do galinheiro. Não era um som comum para a região, um barulho de crianças     brincando em um parque de diversões. Lentamente caminhei, guiado pelos risos que se avolumavam, à medida que eu me aproximava do último faixo de lua que descia do céu.
  Não sei que dimensão era aquela, mas a árvore era um grande carrossel iluminado que girava com um barulho de engrenagem metálica.
  Do céu caíam cantando balões roseo-avermelhados, que ao tocarem as folhas daquele verde carrossel se abriam em lindas bailarinas, com saínhas volumosas e sapatilhas de ponta.
  Riam, dançavam e cantavam girando naquela mágica alegria.

                                                                                                                    Augusto

terça-feira, 17 de maio de 2011

Estrela





Numa noite, uma estrela olhou para mim
Foi diferente
Pois foi ela que me olhou
Não que eu não tenha observado as estrelas
Mas nessa noite
foi ela que me olhou
e fez até Psiu quando me desviei
Então a olhei dentro dos olhos
e ela me perguntou:
- Você sabe o que é uma estrela?
Pensei...
Como me demorava nas complexidades dos meus pensamentos
Ela me respondeu:
- As estrelas são as almas que muito amaram
mas que já se foram
e lá de cima piscam para você
te respondendo tudo que gostaria de saber.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

DOENTE


Estou novamente doente
A febre do amor já se tornou latente em meu corpo
Bastou você me olhar
 para o meu coração despertar
e por todo meu corpo derramar
Não é bom não
Vai começar tudo de novo:
as febres, os sonhos, o falar sozinho, os olhares perdidos,
fechar os olhos e te ver escondido atrás de minhas pálpebras,
 fantasiar possibilidades...
Sintomas esses comuns a doença da paixão
Que pena que a medicina não se interesse
por essas clínicas do coração
Podiam bem criar uma vacina para me imunizar
e me proteger dessa dor que é apaixonar.

Augusto

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Entrevistando Rosa




Eu: - Rosa, me fale sobre a vida.
Rosa: - Tudo tem um tempo, ontem botão, hoje rosa e amanhã o chão. Existe um detalhe na vida que faz toda a diferença; ser intenso no momento em que se encontra.
Eu: - O que você espera da vida?
Rosa: - Espero por aquilo que ela tem para me oferecer e não quero nada que ela não me trouxe ainda.
Eu: - Como você lida, quando a vida te traz alguma coisa ruim?
Rosa: - Cada fase tem o seu aprendizado e você deve mergulhar neste instante. Se estiver triste seja o mais triste possível, se estiver sem sentimento algum não queira ter sentimento.
Eu: -E o cotidiano, o dia-a-dia?
Rosa: -Se você parar, silenciar sua mente, suas inquietudes e se concentrar naquilo que acontece no exato momento, vai observar quantas coisas compõe um momento. Não tenha pressa a intensidade não está na rapidez.
Eu: - Você pode exemplificar?
Rosa: - Quando você acordar pela manhã, separe um tempo para cada coisa, na hora de tomar seu café se concentre no sabor daquilo que irá ingerir, não pense que segundos depois irá ter que escovar os dentes ou mesmo ir para o trabalho.
Eu: - E os sentimentos? Como eu faço para viver o amor?
Rosa: - O que temos que conquistar com mais dificuldades tem mais sabor, mas o amor foge as conquistas ele vem quando quer.
Eu: - Rosa, e a morte?
Rosa: -A morte é um presente quando se consegue viver bem cada momento, sendo assim também será um momento de celebração.

                                                     Augusto
obs.: A rosa da foto foi plantada por mim em uma jardineira, nasceram umas quinze rosinhas dessas. Essa que eu fotografei durou dez dias a mais que as outras. Acho que ela agradeceu a atenção.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Frente Fria



Chegou uma frente fria
trazida por uma chuva fina
empurrada por um vento teimoso
que trouxe um silêncio gostoso.


O silêncio me fez ouvir
que ainda não desisti
e com mais fé eu espero
o seu carinho singelo.

Augusto

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Violeta


     Era uma dessas plantinhas simplisinhas, que por serem baratinhas são presenteadas em situações não tão importantes. O vasinho pequenino e de plástico a deixava mais desprovida do direito de ocupar um lugar de destaque.
     Quando a encontrei estava no chão em um canto. Acho que era o local que sua aparência ressequida incomodava menos ou nem sequer incomodava. Sua conexão com a vida devia ser apenas um fio de raíz.
     Comecei a zelar por ela, água, adubo, carinho e um "lugar ao sol". Ela foi reagindo, as folhinhas ficaram mais verdinhas e em dois meses: - MEU DEUS. Brotou um pendãozinho com seis bolinhas, uma delas começou a crescer mais e ficou bem acima das outras e essas se inclinavam à mais alta, parecia que reverenciavam, sabiam que aquele era o seu momento e a respeitavam.
     Eu sabia que aquilo era um presente, uma oferenda, uma conexão entre ela, eu e o cosmo. Olhei-a numa manhã e aquela bolinha começava a se abrir e a tomar formato de flor. Que brilho, que cor, que vida. 
     A noite diferentemente das flores de sua espécie ela se fechou, parecia que se abriu apenas para dar uma espiadinha na vida, mas lembrando de seus momentos de sofrimento, tenha ficado tímida ou achado que ainda não estava pronta.
     Apenas no dia seguinte é que tomou coragem para se abrir por completo e se entregar e a vida enfeitar.

                                                                                   Augusto

terça-feira, 5 de abril de 2011

Puta

    Ontem eu conheci uma puta, era cêdo e ela estava parada numa barraca de feira, cheirando uma fruta na mão. Estava tão entregue em seu momento que não viu que eu me aproximava, ela me atraía como a um imã. Tinha os cabelos presos, um vestido longo e carregava umas flores amarelas na sacola e outra bem acima da orelha. 
    As pessoas a olhavam mas ela não às enxergava. Escolhia calmamente, foi quando eu a ouvi perguntar ao feirante de onde vinham aquelas frutas, quando o silêncio foi quebrado aproveitei para me aproximar, acho que acabei por invadir seu território, pois ela me olhou, carregava força e tristesa em seus olhos negros.
    Sem graça eu sorri e ela levantando levemente a cabeça aspirou fundo, como um animal procurando o cheiro do outro. Me senti uma caça e abaixei o olhar, ela ajeitou a flor que escorregava nos cabelos, pagou ao feirante e ao abaixar para pegar a sacola me perguntou:
    -Jantas comigo?
    Tentei controlar o pulsar alto do meu coração, com mêdo que ela ouvisse e enxergasse que eu não passava de uma presa totalmente entregue, respirei fundo e respondi:
    -Sim.
    Ela sorriu sem abrir a boca e com os olhos apertados, parecia conversar consigo, depois me entregou um bilhete, que não tive coragem de abrir na hora e falou:
    -Oito e meia. 
    Fiquei mudo e ela se foi, abri o bilhete e vi o endereço. O que aconteceu até o horário marcado foi a ansiedade do encontro. A casa era pequena e isolada, bati na porta e ela abriu. Parecia outra pessoa totalmente a vontade em seu território. uma saia branca até os joelhos, uma blusa vermelha e outra flor nos cabelos ( Comecei a achar que aquelas flores brotavam de suas orelhas e as cores variavam de acordo com o momento).
    Depois que ela se virou pude observar o ambiente, era pequeno, colorido, quente, cheiroso, quase não tinha móveis, um rádio, não vi TV, só observei que tinha muitas plantas (talvez isso explicasse as flores).
    Pediu para que eu me sentasse, puxou a cadeira e eu me ajeitei nervoso, com os braços apoiados na mesa de madeira com quatro cadeiras. Ela voltou da cozinha com um copo e perguntou se eu bebia alguma coisa, respondi que sim. Após me servir voltou com uma vasilha cheia de água e com algumas batatas dentro. Eu achava que o jantar já estivesse pronto e que iríamos direto nos embriagar no desejo de sexo, mas me enganei. Ela me deu uma faca e uma batata e sem dizer uma palavra, se sentou a minha frente, pegou outra faca e começou a descascar sem ao menos me olhar.
    Ali comecei a descascar também, todo preconceito em relação a ela. Disse que não tinha ninguém, mas que sempre teve a si mesma, disse que se apaixonou várias vezes mas que amou apenas uma vez e foi a única vez que se sentiu fragilizada e pensou em abandonar sua vida. Disse que o mais importante para ela  era a liberdade e por isso não queria nada que a prendesse, nem filhos, nem marido e nem família.
    Disse que preferia comer feijão comprado com seu próprio dinheiro, do que lagosta sendo obrigada a chupar quando não queria. Disse que era puta por prazer e que gostava de ver nos olhos dos homens a entrega.
    Disse que não era uma mulher comum e que não se venderia a um homem só, em troca de casa, viagens, jóias ou qualquer outro luxo. Admirava a dignidade e que o pouco que tinha, fora conseguido por trabalho pago por serviços prestados. Acreditava no destino, no livre arbítrio e na vida.
    Falou tudo isso, enquanto preparava uma das melhores comidas que já comi nessa minha vida, depois me farejou, me beijou, me amou e nada cobrou.

                                                                                    Augusto

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MIMADO



     Quando os meus pés estão cansados coloco-os para cima
     Quando minhas pernas e meus braços doem, deixo-os parados para descansarem
     Posso controlar meu aparelho digestivo, escolhendo a qualidade, a quantidade e o tempo da alimentação
     Meus pulmões posso controlar o ritmo e a amplitude de entrada de ar
     Até meu cérebro ponho para dormir
     Mas,  meu coração...
     Ah, esse tem vida própria, é autônomo!
     Agora insisti que quer amar
     As vezes nas horas mais impróprias ele começa a me importunar, este mimado quer amar
     Já tentei convencê-lo que não é tão simples assim, amor é complicado, mas ele teima
     Resolvi então arranjar um alvo, você acredita que ele não quis nem mesmo alterar seu ritmo
     Tentei convencê-lo que tudo tem sua hora, tudo tem um tempo certo
     Mas o danado parece que não entende, até dói
     Já estamos todos nós, resto do corpo trabalhando por seus luxos
     Que órgão egoísta
     Só pensa em si
     Quer por que quer: AMAR.

                                                                  Augusto

segunda-feira, 21 de março de 2011

Beijo



    Quando eu era criança e morava no interior de Goiás, eu criava pombos. Criava galinhas também, mas os pombos eram mais livres, do chão onde as galinhas ciscavam eles alcançavam o telhado num voo fácil. Eu gostava muito deles, das cores variadas, de seus arrulhares ( que imitava perfeitamente) e até de seus feios filhotes despenados e com bicos desproporcionais. Mas o que eu mais gostava nos pombos eram os seus namoricos, adorava assistir as suas intimidades e eles não ligavam para o meu voyerismo.
    O casal ficava completamente concentrado em seus desejos, o macho estufava o peito, o pescoço se avolumava e aproximava da fêmea, que fazia movimentos leves com a cabeça e com seu bico coçava as penas debaixo de suas asas e as penas da cabeça do parceiro. O tempo que aquilo durava, parecia ser controlado pela fêmea pois o macho precisava convencê -la.
    O mais impressionante do ritual, eram que eles se beijavam na boca, ou melhor, no bico, não importa. Eles tinham seus olhos próximos e só depois do beijo a fêmea se abaixava e permitia que o macho a fertilizasse.
    Entendi tardiamente o porquê usavam figuras de pombinhos, nos antigos convites de casamento e referiam- se aos casais apaixonados como: "os pombinhos".
    Quando me mudei para São Paulo já pós-adolescente, a cidade era forrada de pombos. Eles eram diferentes dos meus, não tinham brilho nas penas, eram sujos e invasivos e as pessoas da cidade os detestavam, diziam que eram ratos com asas. Sinceramente naquela época eu tinha até vergonha de assumir que eu já havia criado pombos.
    Conheci uma mulher em São Paulo que também odiava aquelas aves e apesar dessa divergência nos tornamos amigos, passando então a compartilharmos momentos. Ela confidenciou-me que depois de quase trinta anos de casada se divorciou e igualmente aos pombos da minha infância, não se importou em partilhar comigo sua intimidade. Relatou-me que seu ex-marido não gostava de beijá-la na boca, mas fazia um "oral" como ninguém. Eu não conseguia entender aquilo, pois até os pombos se olhavam nos olhos antes de copularem.
    Enfim essa amiga acabou trocando aquele marido por outro, que segundo ela tinha um beijo quente e eu acabei concluindo que eram os pombos que sabiam amar.

                                                                                        Augusto

terça-feira, 15 de março de 2011

Girassol



    Oi!
    -Não interessa meu nome. Não pense que só porque sou uma flor, que tenho que ser doce e delicada.
    -Vocês não sabem o que a gente passa, para chegar a ser assim.
    -Estou na vida porque eu quis. Aprendi muitas coisas com o ciclo, uma destas coisas é que a vida é para os fortes. Só os fortes saboreiam a vida.
    -Não tenho hérois e não sou fã de ninguém. Nem de flores de outras espécies; como as orquídeas que todos gostam só porque são caras; nem mesmo das flores de minha própria espécie.
    -Estou aqui, porque quis o destino que alguém visse minha mãe, ou melhor, ela quis que alguém a visse. Estava ela numa calçada, próxima de um muro em cima de um entulho. Ela mexia com todos que passavam, mas ninguém a olhava, as pessoas perderam a sensibilidade de verem as flores. Certo dia alguém a viu e foi salvá-la, ela já estava seca e desfalecida, mas cheia de vida no seu centro, essas vidas éramos nós,todas as sementes juntinhas, tímidas, mas carregando dentro de nós a vontade de viver.
    -Hoje você me vê assim. Sorrindo na foto, até as abelhas vieram me saudar, mas vocês não viram o processo. De todas nós sementes plantadas, só eu que consegui dar força para o meu destino e assim saborear a vida.
    -Enfim, a gente nasce para o que é!
    -E chega de papo!

                                                                  Augusto
   

sexta-feira, 11 de março de 2011

Morno


    Vamos para o inferno, meu bem?
    Só não podemos ficar aqui
    no meio do caminho
    Não quero ser morno, meu bem
    Vamos até o frio, vamos até o quente.

    Vamos para o céu , meu bem?
    O pêndulo da vida não para
    Vamos até lá
    Depois  a gente volta pra cá.

    Eu já fui ao inferno sozinho, meu bem
    Dói demais, mas pelo menos a dor é um sentimento
    Vamos agora comigo,  meu bem
    É melhor dividirmos uma dor
    do que aí, sem ao menos sentir.

    Vamos comigo ao céu, meu bem?
    Eu já fui sozinho
    mas com você será duas vezes o prazer.
    Não vamos esperar morrer, meu bem
    O céu é já
    dentro de mim e dentro de você.

                                                                       Augusto

 

quarta-feira, 9 de março de 2011



    Senhor,
    Sou pó sim e sei que a ele voltarei
    mas antes disso Senhor
    quero me juntar ao pó
    Ao contrário da criação que tiraste a mulher do homem
    Te peço Senhor, que me juntes a ele.

    Não quero nada à mais, Senhor
    Apenas viver assim estaticamente
    Só esperando como que magicamente
    Este homem chegar lentamente
    deixando o meu peito queimar.

    Em submissão e silêncio
    enquanto ele guarda o nosso sustento
    a sua roupa hei de lavar
    Cuidarei bem sim, Senhor
    Enquanto lavo o seu corpo
    olharei em seu olho
    e ao pó posso assim retornar.

                                                                  Augusto

obs.: Inspirado em Daniela na nossa viagem de bike à Parati- Rj.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Quebra - cabeça



    Quebra-cabeça de mim mesmo
    dentro descobri peça por peça
    para formar o que sou
    Dessa composição, os meu sentidos dissecados e aguçados
    Sei meus cheiros, meus sabores
    minhas visões e meus toques.


    Os ecos do meu passado
    devidamente arquivados
    As projeções para o futuro
    justapostas e alinhadas
    Sei o que sou!
    Descobri o meu âmago,
    mas me vi atado pela imagem formada
    Na ânsia de me reconhecer na imagem
    não degustei o processo.


    Agora, não quero nada disso
    já toquei minha essência e tive a benção
    Bagunço esse quebra-cabeça
    esqueço o que descobri
    Apenas sou...
    Recomeço como se não soubesse nada
    Não sou mais eu
    sou tudo o que posso sentir
    a partir da anulação de mim mesmo.

                                                                            Augusto

sábado, 5 de março de 2011

Lunático




A lua dizia
como eu devia estar
Você não queria
mas a lua insistia
pra eu refugiar


Tentou mandar flores
um lindo poema
Tudo que me faz alegrar
mas um quarto minguante
da lua reinante
me fez mergulhar


Você não entendia
achava que era birra
e insistia a me importunar
e eu me fechava
com a porta vedada
para a lua adorar.
                       
                   Augusto

quarta-feira, 2 de março de 2011

O céu de cada um



    Quando criança me diziam que quando eu morresse
    eu poderia ir para o céu. Deveria seguir algumas condições,
    aquilo era importante para mim, mesmo com tantas restrições.
    Disseram que o caminho para o céu era estreito
    e por ser um caminho difícil, poucos o trilhavam.

    Muito tempo se passou e o que me assustou,
    foi descobrir o céu mesmo antes de morrer,
    encontrei o céu quando o amor chegou.
    Passei então a acreditar que céu era amar.
    O divino se fundiu a mim e me tornei eterno.

    Descobri também que eram mesmo poucos a escolherem esse céu.
    Muitos pelo caminho largo, cheio de realizações,
    aquisições e de  tanto sem nada.
    Seguindo cegos, por não terem provado
    a dor do estreito céu do amor.

                                                                                  Augusto

terça-feira, 1 de março de 2011

Atraso

                                                                Atraso


    Não quero mais nada!
    Briguei com o Amor,
    ele demorou tanto e eu falei que cansei.
    Se ele bater em minha porta,
    vou falar que não posso recebê-lo,
    pois já tirei a roupa de festa,
    apaguei as velas,
    desarrumei a mesa,
    tirei o disco do Vander Lee da vitrola
    e estou querendo dormir.
    Se ele insistir, educado que sou,
    posso até abrir um pouquinho a janela, só para dar uma satisfação.
    De olhos bem fechados para ele não entrar em mim,
    vou falar de minhas mágoas de espera,
    dos meus soluços das noites sem fim,
    das minhas buscas, dos meus tropeços e dos  meus arranhões.
    Com o peito apertado,vou choramingar bem baixinho.
    Vou fechar a janela e morrer no meu cantinho.

                                                                            Augusto
   

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Carta


Tem pessoa que é marcada por um sentimento intenso que sentiu por outra pessoa e carrega a lembrança do que se dividiu, mas os caminhos são diferentes e elas se afastam. O pior é quando apenas uma delas tem a ilusão de que o tempo não vai apagar a lembrança. Aí ela tenta um contato ameno, apenas para palpar cuidadosamente a alma do outro, na esperança de encontrar seus próprios fragmentos impressos e o outro já não carrega mais lembrança alguma. Então quem amou escreve:


    Eu escrevi aquela carta para você
    Não parecia, mas era uma carta de amor
    Um amor nas entrelinhas e ao mesmo tempo em cada letrinha
    Cada palavra impregnada pelo amor que escorria do coração à mão
    Mesmo que tivesse escrito uma receita de bolo
    Você devia sentir que cada frase, exalava forte e sutilmente um sentimento
    Se você leu como receita
    o seu amor acabou
    Mas se guarda no peito uma fagulha que seja
    sentirás como um perfume que ao entrar em você
    acenderá seu amor.

                                                           Augusto
 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Gigante & o Sol


Eu nunca entendi você.
Nunca soube a sua verdadeira história,
mas uma coisa eu sentia:
Você esperava!
Que evolução é esperar
mas o que você esperava?
Tão entregue, deitado
com os dedos cruzados.




Parecia que acreditava que tudo
tem seu tempo certo, sem incertezas.
Eu o olhava ao amanhecer e lá estava você,
a noite chegava e não se alterava.
Não respondia minhas indagações
parecia que também me exigia espera.
Muito tempo esperei.






Até o dia que você me revelou
que esperava pelo amor.
Pude então ver o dia se esvaindo,
seu peito se abrindo
e seu amor se despindo
para com você se deitar.
Que bonito foi perceber
seu amor sair para nos aquecer
e de tarde você o receber para dele cuidar
Augusto.
Obs.: Essa é a serra da Mantiqueira, que para nós aqui em Cruzeiro a vemos no formato de um Gigante adormecido.                                                
        

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pétalas

                                                               Pétalas


    Talvez um dia seremos assim
    Na mais completa evolução
    Não precisaremos de palavras
    Não estaremos vinculados ao tempo


    Serão nossas pétalas
    a capacidade de amar que adquirimos
    e estaremos sempre
    com nosso centro, nosso miolo, nosso coração
    aberto aos céus, em agradecimento e devoção


    Um dia com desprendimento
    morreremos
    cairemos ao solo e
    nasceremos botão.

                                                                                     Augusto 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Carta à solidão

                                                      Carta à solidão


    A chuva cai sem trégua depois de tempos de seca e a água me encharca de lembranças, por isso te escrevo. Não posso te saudar com o corriqueiro "quanto tempo?", pois não faz tanto tempo assim que nos encontramos, afinal de contas temos convivido tanto ultimamente que nem sei o porquê sinto sua falta.
    Ao pensar que se eu tivesse ouvido as bocas alheias, os pré-julgamentos, eu não a teria  conhecido tão intimamente. Não que eu tivesse medo, mas sinceramente o que diziam era de arrepiar. Já rimos disso, mas relembrar estreita ainda mais nossa relação.
    Quando diziam, que tristes eram aqueles que eram arrastados por você ao exílio, que merecer sua companhia era por paga de péssimas ações, que partilhar sua presença era para os excluídos, os rejeitados, isso me soa agora como rejeição dos fracos.
    Não posso negar que no nosso inevitável encontro, eu trazia os olhos baixos e respeitosos, diante de sua força e altivez, mas me enchi de coragem levantei a cabeça e mergulhei. Talvez essa minha audácia mansa, tenha despertado sua compaixão e você me acolheu. Você fez eu me conhecer.
    Agora não quero mais a alegria superficial, a fuga para o banal, só quero a paz que você, solidão me traz.

                                                                                   Saudades, Augusto

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Madalena

                                                                      Madalena


    Ah, Madalena
    Perdoe às pedras
    Por elas, jamais te machucariam
    só mesmo pelas mãos dos seus opositores.

    Ah, Madalena
    Perdoe aos homens
    Que tão impregnados pela própria cegueira
    Não viram que não adulterava, simplesmente amava.

    Ah, Madalena
    Que sorte tiveste
    d'Ele aparecer em seu caminho de pedras
    e ao te olhar, ver o amor que transbordava.

    Ah, Madalena
    Os cegos só escutaram: -Não peques mais.
    Mas você e as pedras puderam entender
    o que Ele escrevia na areia.

    Ah, Madalena
    Vai ser eterna!
    Porque o seu amor te salvou

                                                                       Augusto 

   

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Silêncio

                                                                    SILÊNCIO

  Palavras, palavras, palavras...
  expressões pela voz
  letras, sons articulados
  Detesto as palavras!
  Elas enfeiam a beleza,
  Blá, bla, bla...

       Bonito mesmo é o silêncio
       Quando conversamos apenas com o sentir
       Eu olho pra você
       Você olha pra mim.

              Sem dizer você traduz
              que foi ali para me ver
              e eu entrego que senti saudades
              o dia inteiro de você.

                          Resolvemos conversar...
                          Por isso, detesto as palavras
                          Emergimos para a superfície
                          e dizemos coisas banais
                          A palavra como máscara de
                          pessoas que nem somos.
            
                                               Silêncio!!!!!
                                               Vamos apenas dividir
                                                o que a palavra não pode exprimir.
                                                                                   
                                                                                                          Augusto      
      

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DESPEDIDA

                                                                      DESPEDIDA 

Você pode ver em meus olhos?
Pode ver o que eles carregam?
Você pode ver a expressão do cão?
Pode ver o que ela carrega?
Se não...
Vou te contar essa história:
  Essa teimosa aí apareceu lá na roça, toda assustada se escondendo e se chegando aos pouquinhos próximo da casa. Eu olhei para ela, que foi logo abanando o rabinho desconfiada, eu a amei desde o primeiro momento, dei um banho nela lá no riacho e deixei-a secando ao sol.
  Fui à cozinha e escondido peguei com uma concha, o leite que esquentava no caldeirão do fogão a lenha, coloquei num pratinho e levei para ela. Enquanto ela rapidamente lambia o leite, com minha mão eu a acarinhava, cada vez que encostava nela parecia que mais ela me pertencia.
  Quando a noite chegou, peguei uns trapos arrumei numa caixinha e coloquei-a para dormir no paiol. A danadinha só queria ficar comigo e chorou a noite toda de saudades.
  Meu pai que a vida tinha deixado com coração de pedra, ordenou que eu desse um sumiço no animal. Essas pessoas com o coração endurecido não entendem o amor, não sabem que quando ama não se quer viver longe, pelo contrário melhor bem juntinho.
  Então, obrigou-me a selar o cavalo e leva-la para bem longe, para que não houvesse chances dela encontrar o caminho de volta. Fomos então eu, ela, o cavalo, o amor e a dor todos juntos, mas na estrada eu prometi a mim mesmo, que um dia eu seria dono da minha própria vida e poderia sim, amar sem ter que deixar.
                                                                   Augusto

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Seus olhos

                                             SEUS OLHOS

Seus olhos não negam,
Sua mente pode até mentir,só para você sentir
mas seus olhos te entregam.
Que traiçoeiros são seus olhos!
Você força seu corpo para outra direção, mas seus olhos dizem não
ficam no canto
querem me fitar, me fixar
Dou risada, pois eu e seus olhos somos cúmplices
e eles te entregam.
Sabem que teu coração me pertence, mas sua razão não
Ela força seu corpo e você se vai.
Uma coisa vou te dizer:
- Se seus olhos um dia não vencerem você, eles hão de morrer.
Que fraco foi você.
                                                         Augusto
escrito em 07/07/2007