quinta-feira, 28 de abril de 2011

Entrevistando Rosa




Eu: - Rosa, me fale sobre a vida.
Rosa: - Tudo tem um tempo, ontem botão, hoje rosa e amanhã o chão. Existe um detalhe na vida que faz toda a diferença; ser intenso no momento em que se encontra.
Eu: - O que você espera da vida?
Rosa: - Espero por aquilo que ela tem para me oferecer e não quero nada que ela não me trouxe ainda.
Eu: - Como você lida, quando a vida te traz alguma coisa ruim?
Rosa: - Cada fase tem o seu aprendizado e você deve mergulhar neste instante. Se estiver triste seja o mais triste possível, se estiver sem sentimento algum não queira ter sentimento.
Eu: -E o cotidiano, o dia-a-dia?
Rosa: -Se você parar, silenciar sua mente, suas inquietudes e se concentrar naquilo que acontece no exato momento, vai observar quantas coisas compõe um momento. Não tenha pressa a intensidade não está na rapidez.
Eu: - Você pode exemplificar?
Rosa: - Quando você acordar pela manhã, separe um tempo para cada coisa, na hora de tomar seu café se concentre no sabor daquilo que irá ingerir, não pense que segundos depois irá ter que escovar os dentes ou mesmo ir para o trabalho.
Eu: - E os sentimentos? Como eu faço para viver o amor?
Rosa: - O que temos que conquistar com mais dificuldades tem mais sabor, mas o amor foge as conquistas ele vem quando quer.
Eu: - Rosa, e a morte?
Rosa: -A morte é um presente quando se consegue viver bem cada momento, sendo assim também será um momento de celebração.

                                                     Augusto
obs.: A rosa da foto foi plantada por mim em uma jardineira, nasceram umas quinze rosinhas dessas. Essa que eu fotografei durou dez dias a mais que as outras. Acho que ela agradeceu a atenção.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Frente Fria



Chegou uma frente fria
trazida por uma chuva fina
empurrada por um vento teimoso
que trouxe um silêncio gostoso.


O silêncio me fez ouvir
que ainda não desisti
e com mais fé eu espero
o seu carinho singelo.

Augusto

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Violeta


     Era uma dessas plantinhas simplisinhas, que por serem baratinhas são presenteadas em situações não tão importantes. O vasinho pequenino e de plástico a deixava mais desprovida do direito de ocupar um lugar de destaque.
     Quando a encontrei estava no chão em um canto. Acho que era o local que sua aparência ressequida incomodava menos ou nem sequer incomodava. Sua conexão com a vida devia ser apenas um fio de raíz.
     Comecei a zelar por ela, água, adubo, carinho e um "lugar ao sol". Ela foi reagindo, as folhinhas ficaram mais verdinhas e em dois meses: - MEU DEUS. Brotou um pendãozinho com seis bolinhas, uma delas começou a crescer mais e ficou bem acima das outras e essas se inclinavam à mais alta, parecia que reverenciavam, sabiam que aquele era o seu momento e a respeitavam.
     Eu sabia que aquilo era um presente, uma oferenda, uma conexão entre ela, eu e o cosmo. Olhei-a numa manhã e aquela bolinha começava a se abrir e a tomar formato de flor. Que brilho, que cor, que vida. 
     A noite diferentemente das flores de sua espécie ela se fechou, parecia que se abriu apenas para dar uma espiadinha na vida, mas lembrando de seus momentos de sofrimento, tenha ficado tímida ou achado que ainda não estava pronta.
     Apenas no dia seguinte é que tomou coragem para se abrir por completo e se entregar e a vida enfeitar.

                                                                                   Augusto

terça-feira, 5 de abril de 2011

Puta

    Ontem eu conheci uma puta, era cêdo e ela estava parada numa barraca de feira, cheirando uma fruta na mão. Estava tão entregue em seu momento que não viu que eu me aproximava, ela me atraía como a um imã. Tinha os cabelos presos, um vestido longo e carregava umas flores amarelas na sacola e outra bem acima da orelha. 
    As pessoas a olhavam mas ela não às enxergava. Escolhia calmamente, foi quando eu a ouvi perguntar ao feirante de onde vinham aquelas frutas, quando o silêncio foi quebrado aproveitei para me aproximar, acho que acabei por invadir seu território, pois ela me olhou, carregava força e tristesa em seus olhos negros.
    Sem graça eu sorri e ela levantando levemente a cabeça aspirou fundo, como um animal procurando o cheiro do outro. Me senti uma caça e abaixei o olhar, ela ajeitou a flor que escorregava nos cabelos, pagou ao feirante e ao abaixar para pegar a sacola me perguntou:
    -Jantas comigo?
    Tentei controlar o pulsar alto do meu coração, com mêdo que ela ouvisse e enxergasse que eu não passava de uma presa totalmente entregue, respirei fundo e respondi:
    -Sim.
    Ela sorriu sem abrir a boca e com os olhos apertados, parecia conversar consigo, depois me entregou um bilhete, que não tive coragem de abrir na hora e falou:
    -Oito e meia. 
    Fiquei mudo e ela se foi, abri o bilhete e vi o endereço. O que aconteceu até o horário marcado foi a ansiedade do encontro. A casa era pequena e isolada, bati na porta e ela abriu. Parecia outra pessoa totalmente a vontade em seu território. uma saia branca até os joelhos, uma blusa vermelha e outra flor nos cabelos ( Comecei a achar que aquelas flores brotavam de suas orelhas e as cores variavam de acordo com o momento).
    Depois que ela se virou pude observar o ambiente, era pequeno, colorido, quente, cheiroso, quase não tinha móveis, um rádio, não vi TV, só observei que tinha muitas plantas (talvez isso explicasse as flores).
    Pediu para que eu me sentasse, puxou a cadeira e eu me ajeitei nervoso, com os braços apoiados na mesa de madeira com quatro cadeiras. Ela voltou da cozinha com um copo e perguntou se eu bebia alguma coisa, respondi que sim. Após me servir voltou com uma vasilha cheia de água e com algumas batatas dentro. Eu achava que o jantar já estivesse pronto e que iríamos direto nos embriagar no desejo de sexo, mas me enganei. Ela me deu uma faca e uma batata e sem dizer uma palavra, se sentou a minha frente, pegou outra faca e começou a descascar sem ao menos me olhar.
    Ali comecei a descascar também, todo preconceito em relação a ela. Disse que não tinha ninguém, mas que sempre teve a si mesma, disse que se apaixonou várias vezes mas que amou apenas uma vez e foi a única vez que se sentiu fragilizada e pensou em abandonar sua vida. Disse que o mais importante para ela  era a liberdade e por isso não queria nada que a prendesse, nem filhos, nem marido e nem família.
    Disse que preferia comer feijão comprado com seu próprio dinheiro, do que lagosta sendo obrigada a chupar quando não queria. Disse que era puta por prazer e que gostava de ver nos olhos dos homens a entrega.
    Disse que não era uma mulher comum e que não se venderia a um homem só, em troca de casa, viagens, jóias ou qualquer outro luxo. Admirava a dignidade e que o pouco que tinha, fora conseguido por trabalho pago por serviços prestados. Acreditava no destino, no livre arbítrio e na vida.
    Falou tudo isso, enquanto preparava uma das melhores comidas que já comi nessa minha vida, depois me farejou, me beijou, me amou e nada cobrou.

                                                                                    Augusto

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MIMADO



     Quando os meus pés estão cansados coloco-os para cima
     Quando minhas pernas e meus braços doem, deixo-os parados para descansarem
     Posso controlar meu aparelho digestivo, escolhendo a qualidade, a quantidade e o tempo da alimentação
     Meus pulmões posso controlar o ritmo e a amplitude de entrada de ar
     Até meu cérebro ponho para dormir
     Mas,  meu coração...
     Ah, esse tem vida própria, é autônomo!
     Agora insisti que quer amar
     As vezes nas horas mais impróprias ele começa a me importunar, este mimado quer amar
     Já tentei convencê-lo que não é tão simples assim, amor é complicado, mas ele teima
     Resolvi então arranjar um alvo, você acredita que ele não quis nem mesmo alterar seu ritmo
     Tentei convencê-lo que tudo tem sua hora, tudo tem um tempo certo
     Mas o danado parece que não entende, até dói
     Já estamos todos nós, resto do corpo trabalhando por seus luxos
     Que órgão egoísta
     Só pensa em si
     Quer por que quer: AMAR.

                                                                  Augusto