quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Carta à solidão

                                                      Carta à solidão


    A chuva cai sem trégua depois de tempos de seca e a água me encharca de lembranças, por isso te escrevo. Não posso te saudar com o corriqueiro "quanto tempo?", pois não faz tanto tempo assim que nos encontramos, afinal de contas temos convivido tanto ultimamente que nem sei o porquê sinto sua falta.
    Ao pensar que se eu tivesse ouvido as bocas alheias, os pré-julgamentos, eu não a teria  conhecido tão intimamente. Não que eu tivesse medo, mas sinceramente o que diziam era de arrepiar. Já rimos disso, mas relembrar estreita ainda mais nossa relação.
    Quando diziam, que tristes eram aqueles que eram arrastados por você ao exílio, que merecer sua companhia era por paga de péssimas ações, que partilhar sua presença era para os excluídos, os rejeitados, isso me soa agora como rejeição dos fracos.
    Não posso negar que no nosso inevitável encontro, eu trazia os olhos baixos e respeitosos, diante de sua força e altivez, mas me enchi de coragem levantei a cabeça e mergulhei. Talvez essa minha audácia mansa, tenha despertado sua compaixão e você me acolheu. Você fez eu me conhecer.
    Agora não quero mais a alegria superficial, a fuga para o banal, só quero a paz que você, solidão me traz.

                                                                                   Saudades, Augusto

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